Liberadas importações de zebu da Índia
Depois de 12 anos de negociações para abertura das importações de material genético do zebu indiano, os primeiros embriões das raças guzerá, gir e nelore importados da Índia chegam ao Brasil. A tecnologia foi essencial para que os criadores brasileiros iniciassem esse novo capítulo na história do zebu.
Pelos desertos do estado indiano de Guzerate, o pecuarista brasileiro Geraldo Melo Filho percorreu milhares de quilômetros em busca de rebanhos puros da raça guzerá. Quando desembarcou em Ahmedabad, a maior cidade do estado, ele percebeu que a procura por bons animais exigiria longas viagens pela terra nativa do guzerá, pois, nas proximidades da cidade, grande parte dos animais eram mestiços. Como os indianos criam bovinos apenas para tração e produção de leite, o governo incentiva há vários anos o cruzamento entre zebuínos e raças taurinas leiteiras para garantir mais leite à população. Essa política tem resultado na redução dos rebanhos de zebuínos puros.
Somente quando saiu de Ahmedabad em direção ao deserto, o criador Geraldo Melo Filho pôde encontrar lotes de animais puros. “Os mestiços não conseguiriam sobreviver às temperaturas tão altas e à escassez de comida do deserto. O guzerá, por ter rusticidade, vive bem nessa região. O gado come o que acha, como, por exemplo, palhada de alguma lavoura já colhida e, mesmo assim, dá boa quantidade de leite para consumo das famílias. A pureza dos lotes no deserto é fenomenal”, lembra Melo, que esteve na Índia nos anos de 2003, 2004 e 2006 em busca de bom material genético para importar para o Brasil. Ele é criador de zebu há 28 anos.
Foram mais de cinco mil quilômetros percorridos na tentativa de selecionar bons zebuínos. Uma tarefa árdua que começa a resultar em um final feliz. Depois de mais de uma década de negociações, os governos do Brasil e da Índia assinaram o protocolo sanitário que permite a importação apenas de embriões zebuínos. O acordo foi assinado em fevereiro de 2008, mas os primeiros lotes só chegaram em solo brasileiro em dezembro devido ao excesso de burocracia.
A liberação para o envio da primeira remessa de cerca de 350 embriões (300 nelore e 50 gir e guzerá) aconteceu somente após a intervenção direta do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva junto ao governo indiano durante viagem oficial àquele país, no ano passado. O embaixador do Brasil na Índia, Marco Brandão, também teve participação importante na reta final das negociações. “O empenho do presidente Lula para a concretização dessa abertura foi decisivo. A retomada das importações também é resultado de 12 anos de trabalho abnegado, arrojado e inovador de criadores brasileiros naquele país, com a parceria do Ministério da Agricultura, da Embrapa, da CNA e da ABCZ”, afirma o presidente da ABCZ, José Olavo Borges Mendes, que integrou a comitiva presidencial quando Lula esteve na Índia em 2004.
O pecuarista e vice-presidente da ABCZ, Jonas Barcellos, é considerado pioneiro nessa nova saga do zebu. No final da década de 90, ciente da necessidade de introduzir novas linhagens das raças zebuínas para resolver o problema da consaguinidade, o criador decidiu comprar animais na Índia. “Consegui garimpar bons animais em várias regiões da Índia, mas, na hora de trazer o gado para o Brasil, não consegui a liberação do governo brasileiro, que alegou risco sanitário. A partir daí, foram anos e anos de muito esforço para garantir a reabertura das importações”, lembra Barcellos, único criador brasileiro que na época adquiriu gado naquele país.
O caminho trilhado inicialmente apenas por Barcellos atualmente é percorrido por outros pecuaristas. A maioria deles contou com ajuda do proprietário da fazenda Mata Velha para vencer o desafio de “garimpar” zebu puro na Índia. Para facilitar todo o processo de aquisição de material genético por parte dos brasileiros, ele montou por lá um laboratório para coleta de embriões, único credenciado para exportar para o Brasil. De lá, serão enviados embriões das raças guzerá, nelore e gir. Dessa última, Barcellos decidiu adquirir animais, mesmo não sendo a raça que cria em seu plantel. “A qualidade do rebanho de gir indiano é impressionante, pois a seleção que eles fazem para leite é criteriosa”, diz o proprietário da Mata Velha.
Na lista de entraves superados ao longo dos últimos 12 anos de negociações, consta até mesmo preocupações religiosas devido ao fato dos bovinos serem sagrados para os adeptos do hinduísmo, religião predominante na Índia. Por parte do Brasil, os entraves foram ligados à questão sanitária. Como o país exporta carne bovina para importantes mercados, o governo vê com reservas a importação de material genético e animais vivos de países que possuem enfermidades que não existem por aqui. Uma experiência amarga já vivida pela Austrália, quando o país importou material genético e teve boa parte do rebanho dizimado por causa da peste bovina asiática. “O governo brasileiro teve excesso de zelo em relação à parte sanitária, mas foram cuidados necessários. Somos o maior rebanho comercial do mundo e não podemos nos arriscar”, atesta o deputado federal Abelardo Lupion, que preside a Comissão Parlamentar Brasil-Índia e está entre o grupo de importadores de embriões. Ele esteve em terras indianas cinco vezes participando de negociações para a abertura do mercado e também à procura do verdadeiro ongole (o nelore indiano). A última visita aconteceu em dezembro do ano passado.
Segundo o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Inácio Afonso Kroetz, as exigências do governo brasileiro são feitas para os países onde o quadro sanitário apresenta enfermidades diferentes das registradas por aqui.
Ao contrário das importações de zebu feitas até 1962 (em 1964, as importações passaram a ser proibidas), a atual aquisição de genética zebuína indiana pôde contar com o avanço das pesquisas para garantir total segurança sanitária. Estudos feitos para verificar qual a forma mais segura de importar a genética do zebu indiano apontaram que apenas o envio de embriões seria seguro. “Graças à evolução da tecnologia, hoje é possível coletar embriões sem qualquer risco sanitário. Já no caso de animais vivos e sêmen não seria possível. Por isso, não houve a liberação das importações de bovinos e sêmen”, explica Kroetz. Nas importações anteriores, foram trazidos apenas animais vivos. Outro diferencial dessa importação, segundo o deputado Lupion, é a realização de exames de DNA nos animais nelore adquiridos na Índia para atestar que se trata de zebu puro. Todos eles contam com registro genealógico e estão inseridos no Livro Especial de Importação, que contém dados de animais registrados na Índia por um representante da ABCZ entre os anos de 1999 e 2008. A partir deste ano, somente os descendentes desses zebuínos já registrados poderão receber o registro.
Os embriões coletados dos animais selecionados por criadores brasileiros na Índia passaram por testes para detectar possíveis enfermidades. Em seguida, foram submetidos à lavagem com substância química para eliminar qualquer risco de doença. Após esse processo, os embriões foram congelados e enviados ao Brasil. Como medida de segurança, uma amostra do líquido extraído na hora da coleta ou lavagem uterina e os embriões degenerados foram enviados junto com os embriões para serem analisados no Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), em Pedro Leopoldo (MG).
A etapa seguinte será a transferência desses embriões para as fêmeas receptoras. Todas as novilhas que serão utilizadas, cerca de 400, passarão por testes, para detectar possíveis doenças, e por um período de quarentena. Elas ficarão na ilha de Cananéia, local onde fica o quarentenário oficial do Ministério da Agricultura. Comprovada a prenhez, as novilhas serão acompanhas até o parto. Somente depois de novos testes sanitários é que os bezerros serão liberados para os importadores. A expectativa é de que os primeiros exemplares nasçam até o final de 2009.
O quarentenário do Ministério só tem capacidade para 400 animais. Isso irá limitar o número de bezerros nascidos por ano. Além disso, o índice de prenhez positiva por meio da transferência de embriões deve chegar a no máximo 40%.
Para o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Rodolfo Rumpf, os avanços da Ciência darão a essa importação um caráter histórico que vai além da parte sanitária. Será a possibilidade de se montar um banco de germoplasma das raças zebuínas no Brasil através de um intercâmbio entre os dois países. “A inseminação artificial em massa das vacas zebuínas com sêmen de taurinos está reduzindo os rebanhos zebuínos por lá. Já o zebu usado para tração animal pode ser reduzido com a entrada do trator na produção agrícola. Futuramente, caso precisem da genética do zebu, os indianos terão de recorrer ao Brasil. Temos material genético zebuíno no Brasil capaz de garantir uma possível exportação. Esse foi um dos motivos que levaram o governo indiano a retomar as negociações em 2004”, lembra Rumpf, que esteve na Índia na época representando a Embrapa em uma reunião diplomática para discutir a abertura do comércio.
O pesquisador voltou à Índia um ano depois junto com a comitiva do Mapa para conhecer a infraestrutura do país, bem como os laboratórios credenciados pelo governo indiano para a realização dos procedimentos com os embriões, os locais destinados ao gado em quarentena e rebanhos. Segundo ele, o governo da Índia é bastante criterioso e exige a permanência de um médico veterinário do ministério da agricultura do governo local nos laboratórios.
Cerca de 11 novas linhagens de nelore devem ser introduzidas no Brasil. Entre os importadores desse “sangue novo”, está o criador do Mato Grosso do Sul e ex-presidente da ABCZ, Orestes Prata Tibery Júnior, cuja família teve participação direta em importações passadas. Em busca de animais da raça nelore com boa caracterização racial e de alta fertilidade, o filho do produtor, Ângelo Tibery, viajou para a Índia três vezes. Em uma delas, ele permaneceu quase 60 dias no país percorrendo várias regiões onde há rebanhos zebuínos. “Foi difícil achar material genético de qualidade. Muitas vezes ele saía de madrugada de uma cidade e viajava vários quilô¬metros para chegar em regiões onde se tinha notícia de um bom gado e não encontrava nada. Mas foi possível encontrar bons exemplares ao final das viagens”, conta Orestes. Os embriões dos animais selecionados por Ângelo Tibery ainda não chegaram ao Brasil, mas Orestes acredita que eles trarão uma contribuição importante para o rebanho brasileiro, principalmente em relação à habilidade materna das fêmeas. “Na Índia, as vacas são magras e mesmo assim conseguem criar bem seus bezerros. Precisamos ressaltar ainda mais essa característica nas nossas vacas”, diz.
É o que pensa também o criador Geraldo Melo. “Essa importação vai beneficiar a raça nelore em relação à habilidade materna”, destaca. No caso do guzerá, Melo acredita que a contribuição será relacionada à caracterização racial, rusticidade e ao porte maior dos animais (adequados para produção de carne, que é o enfoque da seleção do criador). Por ser de dupla aptidão, o guzerá terá também ganhos na parte leiteira. Segundo Melo, as vacas selecionadas por ele na Índia dão mais de 20 litros de leite por dia.
Para os dois criadores, essa nova importação enfocou características diferentes das passadas. “Na im¬portação de 1962 foram trazidos poucos animais guzerá e eles tinham um porte menor. Agora, fomos em busca de exemplares com características voltadas para a produção de carne, cujo porte é maior”, de¬clara Melo. Na raça nelore, a última importação foi considerada fundamental para melhoria da qualidade do rebanho no que diz respeito à ossatura e peso. Agora, Tibery aposta no ganho na parte de fertilidade da raça. Além de Tibery e Melo, que é superintendente geral da CNA e conselheiro da ABCZ, uma série de outros criadores lutaram nos últimos anos para a abertura das importações e também estão trazendo embriões da Índia. Entre eles, estão os selecionadores Pedro Novis e Jonas Barcelos, vice-presidente da ABCZ.
Peculiaridades de cada raça à parte, o zebu brasileiro será beneficiado com a redução do risco de consangüinidade no rebanho, o que os criadores chamam de “refrescamento” de sangue. A consangüinidade acontece quando se cruza animais de uma mesma família, o que é comum quando o número de bovinos oriundos de linhagens diferentes é reduzido. Para o pesquisador da Embrapa, Rodolfo Rumpf, essa nova importação é uma iniciativa muito importante do ponto de vista genético e deve receber atenção especial da parte dos programas de melhoramento genético. “O Brasil tem um trabalho bastante conceituado na área de melhoramento genético e isso deve ser utilizado a favor da multiplicação dessa genética que está sendo importada da Índia”, ressalta. Segundo ele, técnicos dessa área participaram do processo para liberação das importações e já trabalham para garantir que essa nova leva de zebu indiano, assim como os raçadores do passado, imprima novamente ao rebanho brasileiro um salto qualitativo na produtividade.
Fonte: Revista ABCZ
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Fazenda Brasília, uma história de muitos baldes cheios
Por Nathã Carvalho natha@pecuariabrasil.com
Referência mundial em genética do Gir Leiteiro, criação iniciada por Rubens Peres comemora este ano 50 anos de seleção. Marcada pela persistência na busca de animais superiores e por se tornar uma importante personagem na história da raça, a Fazenda Brasília é lembrada frequentemente ao se falar na fabulosa evolução da raça. Qualidade dos animais é comprovada anualmente, com os resultados em concursos leiteiros, touros provados no teste de progênie e novos recordes sendo superados por matrizes da fazenda
Em poucos momentos de análise, comparando dados de anos anteriores com os atuais, imagens de importantes animais, e informações que mostrem o desenvolvimento da raça Gir Leiteiro no Brasil, já é possível notar, a severa evolução dos animais da raça.
Quem tem a oportunidade de assistir aos atuaisjulgamentos especializados na aptidão leiteira, nem sempre, imagina o grande trabalho de melhoramento genético envolvido, para que naquele momento esteja sendo apresentados, animais daquele porte. Isso não se reflete apenas nas exposições. A raça Gir Leiteiro a cada ano está conquistando novos adeptos e novos espaços.
A cada momento, novos criadores estão entrando na raça, e novos produtores passam a utilizar genética em seus cruzamentos. Este é o resultado de um processo relativamente lento, eficiente e muito criterioso. Foi desta forma, que o gado Gir, se tornou o principal zebu leiteiro do Brasil, e por que não dizer do mundo. Entre os inúmeros autores desta “arte”, uma, logo vem a nossa mente quando falamos
É difícil falar em Gir, sem lembrar a marca RP. A Fazenda Brasília está comemorando este ano, 50 anos de seleção, iniciada na cidade de São Pedro dos Ferros, no Vale do Rio Doce, Estado de Minas Gerais. Rubens Rezende Peres, já tinha 700 vacas Gir padrão, pois na época, era a raça mais popular do Brasil. Após ter verificado um trabalho de seleção feito em algumas fazendas do governo, que buscava descobrir as melhores vacas de leite, ele se interessou pela atividade e resolveu partir para uma seleção leiteira, a partir do gado que já possuía. Destas 700 vacas Gir registradas, ele submeteu á elas uma pesagem de leite, na qual descobriu 80 fêmeas que se diferenciavam deste lote, pela sua produtividade.
Coincidentemente, essas 80 vacas eram provenientes de três linhagens de touros. Esses touros eram reprodutores da região, mas eram touros que estavam muito ligados ás proximidades da fazenda. Sendo assim, ele tentou comprar todas as vacas filhas destes touros que havia por perto, dando inicio á sua seleção. Passados cerca de quatro anos, Rubens Peres resolveu fazer um negócio mais sério ainda, contratando o melhor técnico que existia do governo, Dr. Hugo Prata, que hoje é o diretor do Museu da ABCZ, para montar uma escrita e auxiliar na garimpagem de outras linhagens que produziam leite. “Ele Ficou alguns anos lá, e montou uma escrita fantástica, de produção, reprodução e mais completa possível zootecnicamente, tanto é que essa escrita existe desde 1961/1962.
Com essa escrita saiu várias teses de mestrados de zootecnistas famosos hoje, por que ela é uma das mais completas que tem de Gir Leiteiro, desde muitos anos” conta Flávio Peres, atual titular da fazenda. “Meu pai perguntava ao Hugo Prata, onde há animais bons para usar. Aí ele respondia, como por exemplo - tem o bombaim que é campeão nacional em Franca, dizem que as filhas dele estão dando leite - assim, ele foi lá e comprou um
filho do Bombaim com a uma das melhores vacas de leite do criatório” diz Flávio Peres. Esse bezerro, que se chamava “Caxangá”, mais tarde deu origem á linhagem do Vale ouro de Brasília, um dos touros mais famosos do Gir Leiteiro. | Vale Ouro de Brasília |
Vale Ouro já originou oito touros provados, entre eles, um dos destaques que é o Caju de Brasília, que também ficou muito famoso. Caju se caracteriza por produzir filhas com úberes corretos, assim como seu pai, Vale Ouro, que também melhora úbere. Modelo de Brasília é um filho de Caju, que já produziu muitas atuais filhas recordistas, inclusive três grandes campeãs nacionais. “É uma linhagem muito importante que a Brasília produziu” afirma Flávio.
Uma grande e tão importante ferramenta que contribui severamente em todo esse processo visando selecionar a produção de leite na raça Gir, foi a chegada do teste de progênie.
Ele começou a ser realizado em 1985, proporcionando principalmente mais facilidade na escolha dos touros á serem utilizados, além de mostrar quais reprodutores possuem a capacidade de transmitir as características desejáveis com mais eficaz. “Foi a revolução do Gir Leiteiro. Hoje para se iniciar uma seleção de Gir Leiteiro, está muito fácil, pois se tem os parâmetros da Embrapa gado de leite que é o teste de progênie oficial, na qual você pode usar só touros provados no rebanho, e trabalhar também com vacas com valor genético melhor, pois a Embrapa além de aferir oficialmente os touros, se tem o valor genético das fêmeas. Então isso facilitou para se trabalhar com mais segurança para se fazer um gado de leite” explica Flávio Peres.
Peres ainda conta que quando não se tinha o teste de progênie, muitas pessoas achavam que o Gir Leiteiro era um animal diferente, sem capacidade de soma e transmissão de genética leiteira ao rebanho brasileiro. “Essa era a opinião de muita gente”. Com os resultados oficiais, os testes de progênie comprovam e mostram o valor genético. Com isso, a segurança para trabalhar com touros que realmente transmite leite aos seus descendentes é ainda maior. “Isto causou uma mudança total no interesse do Gir Leiteiro, foi a mudança mais fantástica que teve, dentro da seleção, foi o resultado deste teste com a Embrapa Gado de Leite” afirma Peres.
Porém, desde muito antes da existência do teste de progênie, trabalhou-se com oitenta touros da Fazenda Brasília. Descobriram-se três touros provados para leite, três linhagens diferentes. Uma vinha do Caxangá. Outra, originada do Quadro do Umbuzeiro, que se chamava Udo, linhagem esta, que deu origem ao reprodutor Impressor de Brasília e outros touros provados. A terceira era do touro Japão, que veio da Onassas, que também originou outra linhagem de touros provados. Mais adiante, houve a necessidade de mais uma linhagem para não haver consangüinidade na fazenda.
Foi adquirido um bezerro que veio na
ultima importação da índia, ao pé da mãe, considerada a melhor vaca de leite indiana, que se chamava Sarah Hindostan, comprada por Torres Homem Rodrigues da Cunha. O bezerro se chamava Hindostan. Primeiramente, foi vendido para Sr. Francisco Barreto, criador de Gir Leiteiro, em Mococa/SP. Porém, a Fazenda Brasília, só teve acesso á este reprodutor muito depois. | Modelo de Brasília |
“Conseguimos comprar só depois que ele quebrou a perna, pois o Sr. Barreto não queria vender de jeito nenhum. Coletamos sêmen dele com cavalete e com técnico dando choque. Fizemos vários acasalamentos, em várias matrizes. Um dos seus produtos foi o Rajastan, que mais tarde, deu origem á recordistas mundiais de leite. Assim ficamos com quatro linhagens” explica Flávio. Mesmo assim, a Brasília permaneceu com o rebanho fechado por muitos anos. Surge agora, a 5ª linhagem utilizada, proveniente do reprodutor CA Everest, e de seu filho CA Sansão.
Intensificando a produção
Para os animais permanecerem na fazenda, eles precisam atingir o patamar mínimo de produtividade. De cinco em cinco anos, esse patamar cresce
Desde o dia que saiu o primeiro controle oficial no Brasil, em 1962. Atualmente, o controle leiteiro é feito pela ESALQ - Escola Superior de Luiz de Queiroz - em Piracicaba/SP.
O leite produzido é comercializado. A produção da fazenda está entre 2500 e
um custo um pouco caro, pois não se tem um faturamento diário como o leite, ainda mais agora que o setor está se recuperando” conta Flávio Peres. | Setíba de Brasília |
Seleção
A Fazenda Brasília trabalha sempre com plantel de 500 animais. Destes, 350 são fêmeas, e o restante de bezerros mamando, touros e machos para a venda. Com esse forte time de matrizes, a seleção segue na linha das cinco linhagens utilizadas. Segundo Flávio Peres os principais critérios de seleção, são: Produção de leite, qualidade de úbere e registro de todos os animais. Os exemplares que tem qualidade a baixo da média de leite e de úbere são eliminados.
A Fazenda Brasília sempre buscou utilizar tecnologias de ponta em seu trabalho. Em 1985 quando surgiram as primeiras transferências de embriões, a fazenda começou também a realizar a prática. Já foram feitos mais de 2000 produtos frutos de transferência embrionária. Hoje, a média de prenhezes está em torno de 200/300 por ano, utilizando 20% das melhores vacas da fazenda. Estas doadoras basicamente possuem lactação igual ou superior á
Utilizando os melhores touros disponíveis, a Fazenda Brasília multiplica sua genética de qualidade, e graças ao seu forte time de doadoras, aprimora a raça e não perde o leite.
Esta seleção visando destacar os melhores animais existentes no plantel, principalmente nas fêmeas doadoras, que transmitem aos seus filhos toda esta capacidade produtiva, testada na própria fazenda, estão dando bons resultados ano á ano. Em importantes exposições freqüentadas pela raça e pela fazenda, como a Expozebu e Megaleite em Uberaba/MG e a Feileite
Entre inúmeros grandes campeonatos dos torneios leiteiros da Expozebu, por exemplo, podemos citar alguns mais atuais, como a bi grande campeã, Prosa de Brasília, vencedora dos concursos da Expozebu 2002 e 2004, sendo que na última, com média diária superior á
E não é só no torneio leiteiro que a marca RP faz bonito. Na pista de julgamento, os animais do time de pista estão conquistando cada vez mais, novos e mais prêmios para a fazenda. Na última edição da exposição
nacional da raça Gir Leiteiro, a vaca “Deusa TE de Brasília”, uma filha de CA Everest na Luzíada de Brasília (recordista mundial, com | Profana de Brasília - raça, beleza e leite |
De acordo com Flávio Peres, a busca pela beleza é uma tendência. “Com o julgamento de pista, está havendo uma mudança muito forte, pois está se buscando também, mais beleza, mais raça. Porém, primeiro se deve priorizar o leite, que é o mais difícil de transmitir ao animal. Depois se trabalha para pôr beleza e raça no animal com alta produtividade.
Primeiroa produtividade e depois inserir beleza, por que todo mundo gosta de animais bonitos e bem caracterizados” explica. Um dos grandes destaques da fazenda, quando se fala em beleza, raça e balde, com certeza, é a vaca “Profana de Brasília”, que já um animal quase como referência na raça no país, por reunir muita beleza, qualidade de úbere, ser recordista mundial de produção além de ser Grande Campeã nacional na Expomilk 2005,
São fatos como este, que deixa Flávio Peres cada vez mais feliz, contente e satisfeito com o trabalho que vem sendo realizado. “O Gir leiteiro só nos dá prazer. Deixou de ser sonho há muito tempo, é uma realidade. As vacas vêm se superando em cada geração, e isso para nós, é motivo de muito orgulho e felicidade”.
A Fazenda Brasília conquistou o prestígio de muitos selecionadores brasileiros, principalmente por sempre trabalhar pensando em leite, mas do que tudo, e também com linhagens que transmitiam qualidade de úbere. Esse foi o principal resultado que a Fazenda Brasília transmitiu á vários rebanhos, explica Flávio Peres.
Além de conseguir provar desde no início muitos touros no teste de progênie, havia estas linhagens que corrigiam úbere com muita força, principalmente a linhagem do Vale Ouro. Isto mudou muito a qualidade de úbere do gado Gir no Brasil. “A Fazenda Brasília é de muita sorte. Hoje os principais animais da fazenda são as vacas que vem batendo recordes mundiais e contínuos, aferido em lactações oficiais e controle e concursos leiteiros. Além dos touros que vem sendo provados a cada ano, que hoje, deve ser cerca de 50 reprodutores provados, desde
Manejo nutricional
Com o crescente patamar produtivo estabelecido pela fazenda, houve a necessidade de mudança do manejo nutricional. Por haver uma pressão muito forte para leite e a busca pela maior produtividade, as vacas saíram do pasto vagarosamente. Logo após, o manejo se consistiu no cocho com silagem. “Não existe em raça nenhuma uma vaca produzindo mais de
Á pasto, se consegue no máximo em torno de 15 ou 18 kg/dia. A partir que as produções vão aumentando, temos que partir para o cocho, melhorar nutrição, trabalhar com nutricionista” explica Flávio. Esta mudança no sistema nutricional compensa no sentido econômico e no sentido de se descobrir animais extraordinários para reproduzir esta genética e levar para testes de progênie, tendo bons resultados, que na maioria das vezes, são de animais que se trabalhou com eles, sempre com a mesma alimentação, que dá a oportunidade de descobrir animais que se destacam.
Fonte: www.pecuariabrasil.com
NÚCLEOS MOET
MOET é a sigla para múltipla ovulação e transferência de embriões,
Assim, núcleos MOET são esquemas de melhoramento que selecionam reprodutores, com base na prova de irmãs completas e meio-irmãs maternas e paternas, produzidas em número adequado, através de MOET, aferidas em ambiente padronizado para as diferentes famílias (o núcleo).
2 - Como surgiu a idéia de núcleo MOET?
Esta metodologia foi proposta em 1984 pelos pesquisadores Nicholas e Smith, que demonstraram que a seleção com este esquema poderia ser tão ou mais eficiente que um teste de progênie. A partir de então, vários núcleos MOET de seleção foram implantados em diversos países. O núcleo Guzerá MOET é o primeiro a ser conduzido com raça zebuína, no mundo tropical.
3 - Como funciona um núcleo MOET?
As vacas altamente superiores na característica selecionada são submetidas a múltipla ovulação com os touros também superiores e seus embriões transferidos para receptoras. Formam-se, então, em curto espaço de tempo, grandes famílias de irmãos completos.
As receptoras prenhes são todas conduzidas a um mesmo local, onde todos os produtos das famílias formadas nascem, são criados e aferidos em condições padronizadas. Os valores genéticos são estimados com base na produção da família.
4 - Quais as vantagens dos núcleos MOET?
A principal vantagem dos núcleos MOET é a rapidez na seleção: os touros podem ser avaliados tão logo suas irmãs encerrem a primeira lactação. Assim, as idades dos touros avaliados são praticamente a metade dos testados pela progênie (figura 04), o que aumenta as taxas de ganho genético anual e tem uma série de vantagens de ordem prática.
Touros mais jovens em geral têm melhor qualidade de sêmen e uma longa vida reprodutiva pela frente, melhorando a disponibilidade e preço de seu sêmen. Ao contrário, touros mais velhos podem produzir pouco sêmen ou até estar mortos quando seu valor for conhecido.
Outra importante vantagem é a alta intensidade de seleção que pode ser implementada com esta tecnologia. O aumento das taxas reprodutivas das vacas permite que se trabalhe apenas com as muito superiores, ou seja, as "super-vacas" de uma raça.
Também a concentração de recursos humanos, financeiros e animais num único local acarreta grande redução de custos de avaliação dos reprodutores.
As avaliações
5 - Os núcleos MOET podem ser integrados com testes progênie?
As vantagens dos núcleos MOET podem ser adicionadas às dos testes de progênie, com a integração dos dois esquemas em um único programa. Assim, os touros jovens das famílias superiores do MOET podem ser conduzidos ao teste de progênie para obtenção de acurácia extra. As mais importantes firmas mundiais de inseminação artificial têm cerca de 40% de touros leiteiros em teste de progênie provenientes de programas MOET.
6 - PRINCIPAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Penna , V.M.; Madalena, F.E.; Alvim, M.T.T. Open MOET selection nucleus in Guzerá . In: WORLD CONGRESS ON GENETICS APPLIED TO LIVESTOCK PRODUCTION, 6O Armidale- Austrália, 1998. Proceedings International Comitee for WCGALP, 1998. p.439-442
Penna, V.M. O núcleo MOET da raça Guzerá. Arq. Fac..Vet. U.F.R.G.S. Porto Alegre, suplemento 28(1): 167-178, 2000 (supl.)
Melo, V.J.M.; Penna, V.M. Programas de melhoramento da raça Guzerá . In SIMPÓSIO NACIONAL DE MELHORAMENTO ANIMAL, 3o , Belo Horizonte. Anais.SBMA, p. 219-221. 2000
Verneque, R.S.; Teodoro, R.L.; Martinez, M.L.; Penna, V.M.; Cafiero, R. Melhoramento genético de rebanhos zebus leiteiros . Informe Agropecuário 22 (211), 22-28 , 2001
Teodoro, RL; Verneque, RS; Martinez, ML;Freitas, AF;Durães, MC; Teixeira, NM; Costa,CN; Valente, J; Machado, MA; Madalena, FE. Melhoramento genético animal. In: Embrapa Gado de Leite: 25 anos desenvolvendo a pecuária de leite nacional. p.11-31. Embrapa .
Penna, V.M.; Verneque, R.S.; Teodoro, R.L.; Melo, M.V.M.; Madalena, F.E. Utilization of a MOET nucleus in the improvement of the Guzerá In: WORLD CONGRESS ON GENETICS APPLIED TO LIVESTOCK PRODUCTION , 7th, Montpellier, 2002
Fonte: Núcleo Moet Guzerá
Leia artigo de Cláudio Cândido sobre o teste de progênie Embrapa/Girgoiás
Embriões sexados de fêmeas à venda
Goiânia (GO) – Aproveite a oportunidade para comprar embriões de vacas Gir de qualidade com o touro Teatro da Silvânia. São sete embriões sexados de fêmeas, com prenhezes confirmadas incluso a receptora. São duas prenhezes de Teatro com fortuna da São José, filha de Czar Premenath com Vaga da São José; uma prenhez com Estiva da São José, filha de Zeid da São José com Tanga da São José; quatro prenhezes com Utiaia da São José, filha de Beduíno da São José com Independência da São José e quatro prenhezes com Girafa da São José, filha de Capricho Ena com Zebra da São José. Todas essas vacas são crias da Estância São José, do saudoso Alberto Pereira Nunes Filho. Esses animais saíram da Fazenda de Alberto Nunes ainda novilhas e não foram feitos nenhum controle leiteiro, por isso não existe divulgação de lactação.
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